quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O papel do tutor/orientador a distância: competências e estratégias

O papel do tutor/orientador a distância:


competências e estratégias




Alguns autores questionam o conceito de tutoria, ressaltando que o "profissional potencializador da aprendizagem", além de complementar e facilitar a mediação pedagógica, deve estabelecer uma "comunicação empática" com o estudante (Coelho, 2002; Gold, 2001; Gutierrez, 1996). Pensar nesse mediador ultrapassa o conceito de tutoria, já que, analisando o significado da palavra, tutor é aquele que tutela, que ampara, confere proteção, dependência e sujeição (Struchiner et al.; 1998). Essas características não fazem parte do perfil de um profissional de um ambiente de aprendizagem que busca a potencialização do ato educativo numa ação participativa, criativa, relacional e, principalmente, reflexiva. Assim, esse profissional será mais bem denominado facilitador, orientador pedagógico ou, como optamos neste texto, tutor/orientador. Integrar o conceito de orientação valoriza a ideia de educar pela pesquisa. Portanto, remetendo ao contexto universitário, ressalta-se que o professor deve assumir o papel de orientador e, assim como em sua relação com seus orientandos de pesquisa, deve se caracterizar como alguém que, tendo produção própria, motiva o aluno a produzir também (Demo, 1994).

Para os tutores/orientadores apoiarem o processo de aprendizagem dos alunos, Jonassen (1998) propõe os seguintes níveis de orientação: tutoramento (scaffolding), treinamento (coaching) e modelagem (modeling). O tutoramento dá um suporte sistemático ao estudante, até que ele seja capaz de agir sozinho, como, por exemplo, iniciar uma tarefa, demonstrar os procedimentos e, posteriormente, dar seguimento à atividade de maneira autônoma. O treinamento objetiva motivar os alunos, analisar suas atividades, promover feedback e dar conselhos, provocar reflexões e articular os conhecimentos adquiridos. A modelagem caracteriza-se por oferecer ao aluno um exemplo do comportamento ou da atividade pretendida, por meio de relato de casos parecidos, mostrando como as soluções foram tomadas ou demonstrando como um especialista perseguiria a solução de um determinado problema. O aluno analisa os procedimentos e as soluções, comparando-os com o problema que precisa resolver, e tenta encontrar suas próprias respostas. Dessa maneira, percebe-se a existência de três níveis de atividade e de suporte para o aluno, que vão desde um acompanhamento mais estruturado e direto até o mais aberto, que possibilita a livre iniciativa do aluno (Struchiner et al., 1998).

Aretio (2001) aponta que a quantidade de características e competências recomendadas para a atividade de orientação a distância é muito extensa e, nesse sentido, procura enfatizar quatro principais qualidades, sem as quais todas as demais podem fracassar: cordialidade - fazer com que os alunos se sintam "bem-vindos", respeitados e confortáveis; aceitação - aceitar/compreender a realidade do aluno que, em seus contatos com o tutor/orientador, deve se sentir participante ativo do processo; honradez - ser verdadeiro e autêntico; não deixar que o aluno crie expectativas falsas sobre o que se pode oferecer; manifestar honestidade, não assumindo uma postura de "professor dono da verdade"; empatia - colocar-se no lugar do outro; envolver-se com os sentimentos dos alunos, aproximando as relações.

Aliada a essas qualidades, Aretio ressalta ainda mais uma: a capacidade de desenvolver uma escuta/leitura inteligente, isto é, o tutor deve procurar escutar/ler o que se diz/escreve intencionalmente, ou inconscientemente. Com isso, espera-se animar o estudante a expressar seus sentimentos e preocupações sem constrangimento. Para o desenvolvimento dessa qualidade, Aretio indica as seguintes recomendações: (1) procurar remeter a ideia dominante que o aluno acabou de dizer/escrever, resumindo ou parafraseando suas palavras, evitando emitir opinião ou crítica, de maneira a estimular sua reflexão e fazendo-o prosseguir; (2) evitar perguntas que podem ser respondidas com "sim" ou "não", ou aquelas iniciadas por "por que"; essas perguntas tendem a quebrar o fluxo natural do pensamento dos alunos, são restritivas e, por possuírem uma natureza de interrogatório, podem colocar os alunos em uma postura defensiva; (3) compreender o silêncio; muitas vezes, um espaço de tempo sem diálogo é necessário para a reflexão e a tomada de decisão pelo aluno; o tutor/orientador deve procurar estar atento se o silêncio indica desânimo ou possível desistência, ou tempo necessário para a reflexão/ação individual.

O desenvolvimento de todas essas qualidades revela a importância do aspecto humano das relações, que deve ser elevado ao máximo, possibilitando o estabelecimento de um processo educativo onde haja uma relação emocional de confiança, amizade e cumplicidade (Santos, 2002). Segundo Krelling (2001), esse tipo de relação é essencial para o crescimento do aluno, contribuindo para minimizar problemas como a alta evasão nos cursos de EAD.

Muito embora essas classificações sobre o papel do tutor/orientador a distância venham sendo amplamente discutidas na literatura (Aretio, 2001; Berge, 1995; Gutierrez, 1996; Jonassen, 1998; Krelling, 2001; Santos, 2002), ainda há poucos dados ancorados em pesquisas sobre a prática de tutoria em contextos a distância, mediados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Tendo em vista que essas informações são de fundamental importância para o planejamento de ambientes e processos educativos a distância, este trabalho tem como finalidade oferecer subsídios para essa discussão, com base na análise dos resultados obtidos em três estudos sobre programas de EAD, via Web.



Referencia:

Gianella, Taís R.; Struchiner, Miriam; Ricciardi, Regina M.V. "lições aprendidas em experiências de tutoria a distância: fatores potencializadores e limitantes." Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0059.html. Acesso em: 17 out 2012.