terça-feira, 31 de julho de 2012

CMEI Cantinho das crianças de Salvador - BA

sábado, 3 de setembro de 2011

PROJETO SOBRE O FOLCLORE


CMEI CANTINHO DAS CRIANÇAS

Projeto: Viajando nas lendas e na linguagem do folclore




Projeto: Viajando nas lendas e na linguagem do folclore

Período : 17 à 31 de Agosto

Público Alvo: Berçários, grupo 3 e a Pré escola


JUSTIFICATIVA:

Na idade em que se encontram as nossas crianças, onde nesse momento estão passando por uma transição em relação ao seu comportamento, pois estão começando a mesclar um comportamento anteriormente apenas formado por reflexos (proveniente de quando eram bebês), com uma nova fase: a linguagem. Nesta transição a criança sente a necessidade de fingir ser alguém, de fantasiar situações. Daí surge a simbologia refletida nas brincadeiras de faz de conta. Elas vivem num mundo imaginário onde são capazes de pensar e agir imitando situações variadas. Com isto, vemos a importância de se trabalhar o Folclore. Pensamos aqui, no Folclore como um grande quebra cabeça, um grande brinquedo, em que cada peça é fundamental: as danças, as lendas, as cantigas, as brincadeiras, etc. Quanto mais se brinca com esse jogo mais se conhece a cultura do nosso povo, logo não poderia ficar de fora do nosso espaço escolar.


OBJETIVOS:

1-Vivenciar, resgatar e conhecer o Folclore com propostas lúdicas e de cunho educativo, pois a cultura de um povo é um bem precioso que deve ser cultivado. E o nosso objetivo é tirar a poeira da palavra Folclore e brincar com as possibilidades que ela oferece.

ÁREAS:

Formação Pessoal e Social: Socialização, respeito, valorização do outro, autonomia, iniciativa;

Linguagem oral e escrita: fala, diálogo, cantigas, escrita (pré escola), lendas

Natureza e Sociedade: história das brincadeiras, diferentes forma de cantar, brincar e contar historia.

Movimento: brincadeiras, danças;

Artes: dramatização das lendas



DESENVOLVIMENTO:

Conversa informal, rodinhas, atividades com danças, rodas, brincadeiras, desenhos para colorir e narração de lendas e contos.

RECURSOS:

Livros e revistas, papel crepom, laminados,duplex, Cds com historias e cantigas, fantasias, maquina fotográfica, cola, lápis coloridos.



Avaliação:

Através de registro das observações da forma de expressão das crianças, do seu desenvolvimento nas atividades e satisfação nas próprias produções em sala de aula, de forma individual e coletiva e do desenvolvimento de aprendizagem durante as atividades propostas.



Culminância: Apresentação no pátio, depois do lanche( Típico do folclore) ás 14:30 por cada grupo E A APRESENTAÇÃO DE FIGURAS MITOLOGICAS PELOS PROFESSORES E A DANÇA DO BOI BUMBA



Grupo 3 A A LENDA DO SACI PERERÊ

Grupo 4 A A LENDA DO LOBISOMEM

Grupo 4B A LENDA DA IARA

Grupo 5A A MÚSICA MARINHEIRO SÓ, QUEM LHE ENSINOU A NADAR...

Sugestões de lendas

Lendas: Mula sem cabeça, Saci Pererê, Cuca,Neguinho do Pastoreio, Curupira, Lobisomem, Boto e outros.

Brincadeiras: Chicote queimado, amarelinha, empinar pipa, jogar pião, cabra cega, hora do chá, passa anel, esconde-esconde, cabo de guerra, pular corda, boca de forno e outras.

Brinquedos: Cata-vento, pipa, Vai e vem, e outros
Comida: feijoada, pé de moleque, pipoca, cocada, mugunzá, xixim, bolinho de aipim, pamonha, caruru, vatapá,outras.





















sexta-feira, 27 de julho de 2012

O LÚDICO NA FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA – UAB
JAIR PEREIRA
REGINA DO ROCIO MOTTA
O LÚDICO NA FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM
PONTA GROSSA
2011
O LÚDICO NA FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Trabalho apresentado para o curso de graduação em Pedagogia, na modalidade EaD, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, como requisito de obtenção parcial de nota na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental II.
Tutora: Professora Daniela Aparecida Nascimento.

 
SUMÁRIO
  1. Introdução do projeto........................................................................................1
  1. Justificativa....................................................................................................... 2
  1. Objetivos do projeto de estágio........................................................................ 3
3.1. Objetivo geral.
    1. Objetivos específicos.
4. Fundamentação teórica.................................................................................... 4
5. Metodologia do projeto de estágio.................................................................... 7
6. Cronograma...................................................................................................... 9

7. Referências.................................................................................................... 10

8. Anexo............................................................................................................. 1
1 - Introdução do projeto 1
O presente projeto será desenvolvido como requisito da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental II, pelos acadêmicos Jair Pereira e Regina do Rocio Motta no período matutino da Escola Municipal Laís Peretti, em Curitiba- Paraná.
Nós optamos por estagiar no 4º ano das séries iniciais do ensino fundamental, que tem como regentes, na turma A, a Professora Myrian, e na turma B, a professora Kelly a qual é responsável pela aprendizagem, acompanhamento do desempenho, disciplina, contato com os pais, encaminhamentos, pareceres descritivos.
A escola é muito bem organizada, os professores bem comprometidos com a qualidade de ensino perceberam que os conteúdos são apresentados de forma multidisciplinar, mesmo as professoras de educação física, arte e projeto de literatura fazem seus planejamentos levando em conta o que está sendo trabalhado pela regente; a direção e equipe pedagógica estão sempre presente.

2 - Justificativa 2

Este surgiu como pré-requisito para graduação do Curso de Pedagogia da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental II, constante do sexto período.
O Estágio Supervisionado é um instrumento imprescindível, que proporciona o contato com a realidade na qual atuará. Caracteriza-se como um momento de análise e apreensão do contexto real, sendo um elemento fundamental para a formação profissional. É parte integrante do processo de formação inicial e constitui-se como o espaço, por excelência, da relação dialética entre a teoria e a prática, portanto valiosíssimo.
Sendo que a prática pedagógica escolhida é baseada em atividades lúdicas de caráter teórico-prático, sobre os temas solicitados pela regente. Serão atividades sobre conteúdos já trabalhados que necessitam de fixação, visto as dificuldades apresentadas pelos alunos. 
A metodologia que usaremos para nossa intervenção pedagógica se pautará no lúdico, sendo que nossa questão norteadora é: A fixação dos conteúdos das diversas áreas do conhecimento pode ser potencializada com o uso de jogos pedagógicos? Iremos utilizar jogos – os mais variados – para a fixação dos conteúdos repassados pela professora regente.
O lúdico é deslumbrante, intrigante, excitante e com certeza levará o aluno a repensar muitas e reformular conceitos, adquirindo nova interpretação, novo olhar, nova leitura dos mesmos.

3 - Objetivos do Projeto de estágio 3
3.1 Objetivo geral:
  • Proporcionar ao aluno/acadêmico o contato com a realidade na qual o mesmo atuará.
  • Proporcionar ao aluno a fixação e memorização do conteúdo ensinado através de jogos pedagógicos. 
3.2 Objetivos específicos:
Oportunizar ao aluno/acadêmico a vivência em sala de aula, para apropriar-se do conhecimento propiciado pela prática;
Desenvolver atividades envolvendo os jogos pedagógicos durante as aulas práticas de sala de aula;
Refletir sobre a relação dialética estabelecida entre teoria x prática;
Formar aluno/acadêmico a partir de um contexto real de atuação;
Elaborar o planejamento dos conteúdos utilizando-se de atividades lúdicas.

4 – Fundamentação teórica 4

O estágio supervisionado é um momento de fundamental importância no processo de formação de qualquer profissional, e de forma imprescindível aos da educação. Constitui-se em um treinamento que possibilita vivenciar a teoria aprendida na Faculdade, integrando as inúmeras disciplinas que compõem o currículo acadêmico. Por meio dele podem-se perceber as diferenças do mundo organizacional e exercitar sua adaptação ao meio.
É na relação entre a teoria aprendida e a prática proporcionada pelo estágio que construímos nosso conhecimento e desenvolvemos nossas habilidades profissionais.

Esta mudança de percepção, que se dá na problematização de uma realidade concreta, no entrechoque de suas contradições, implica um novo enfrentamento do homem com sua realidade. Implica admirá-la em sua totalidade: vê-la de “dentro” e, desse “interior”, separá-la em suas partes e voltar a admirá-la, ganhando assim, uma visão mais crítica e profunda da sua situação na realidade que não condiciona. (FREIRE, 1983, p.60)


Segundo Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino, Direito do Trabalho, “A finalidade do estágio é proporcionar ao estudante um trabalho para a complementação do ensino do curso que ele está fazendo. Tem natureza pedagógica, visando à melhor formação profissional do estagiário”.
Sendo que esta prática pedagógica é que nos fará ampliar o conhecimento da profissão escolhida.
O processo de profissionalização envolve esforço da categoria para efetivar uma mudança, tanto no trabalho pedagógico que desenvolve, quanto na sua posição na sociedade. Isso porque o trabalho pedagógico é ligado às finalidades e aos objetivos e, portanto, carregado de intencionalidade política, partindo de um saber científico próprio e da solidariedade em torno de valores e interesses comuns (GOMES, 1993, p. 5, in VEIGA, 1998, p. 76).

Para aplicar nossa prática pedagógica e, consequentemente cumprir as finalidades da disciplina; tivemos como objetivo desenvolver uma forma lúdica, utilizada como elemento facilitador no processo ensino-aprendizagem, para uma fixação dos conteúdos e, portanto uma melhor aprendizagem. 
Tendo em vista que hoje já não podemos admitir uma aprendizagem apenas pautada no tradicional, observamos o que nos diz Mendonça: 5
[...]nesse sentido sugere-se que a sala de aula não possa mais ser marcada apenas pela relação autoritária advinda da escola tradicional, mas sim que a atividade docente compreenda o ensinar e o aprender como processo interdependente e que aconteça num ambiente de ludicidade (2008, p.353).

O lúdico aplicado à prática de ensino não apenas contribui para o processo de ensino-aprendizagem, como também possibilita ao docente tornar suas aulas mais dinâmicas e prazerosas. Sendo assim, podemos dizer que este tipo de atividade possui um caráter educacional intrínseco, inerente e deve ser utilizado como recurso pedagógico. Como ressalta Teixeira:
O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário. (...) As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. (...) As atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e operações, a ludicidade aciona as esferas motora e cognitiva, e à medida que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Assim sendo, vê-se que a atividade lúdica se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é, também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. (Teixeira, 1995, p. 23).
No processo de ensino-aprendizagem as atividades lúdicas ajudam a construir uma prática emancipadora e integradora, e se tornam um instrumento de aprendizagem que favorece a aquisição do conhecimento em perspectivas e dimensões que perpassam o desenvolvimento do educando. O lúdico é uma estratégia insubstituível para ser usada como estímulo na construção do conhecimento humano e na progressão das diferentes habilidades operatórias, além disso, é uma importante ferramenta de progresso pessoal e de alcance de objetivos institucionais.


5 – Metodologia do Projeto de estágio: 7

Como estaremos desenvolvendo conteúdos já trabalhados com a finalidade de fixá-los melhor, a professora regente nos sugeriu que o fizéssemos através de jogos e brincadeiras. Sabe-se que este tipo de proposta é muito valiosa, visto o nível de motivação que desperta nos educandos.
O lúdico está presente em nossas vidas desde o nascimento a nos acompanhará até o final dela.
Brincar é uma atividade inerente ao ser humano, que extrapola seu sentido literal, pois vêm repletos de habilidades, jogos de papéis – o real e o imaginário, aguçamento da criatividade, melhora da conduta e da autoestima.
Ora, se o lúdico é tudo isto, nada mais louvável que nos utilizarmos dele para aprimorar o processo de ensino aprendizagem e, sendo assim, nós abraçamos esta proposta.
Uma aula inspirada no lúdico, não é necessariamente aquela que ensina conteúdos com jogos, mas aquela em que as características do brincar estão presentes, influindo no modo de ensinar do professor, na seleção dos conteúdos, no papel do aluno; é uma aula que se assemelha ao brincar - atividade livre, criativa, imprevisível, capaz de absorver a pessoa que brinca não centrada na produtividade, mas ao mesmo tempo desenvolvendo conceitos básicos importantes para o processo ensino aprendizagem.

O desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças. Os educadores devem organizar todas essas ações e todo o complexo processo de transição de um tipo de linguagem escrita para outro. Devem acompanhar esse processo através de seus momentos críticos até o ponto da descoberta de que se pode desenhar não somente objetos, mas também a fala. Se quiséssemos resumir todas essas demandas práticas e expressá-las de uma forma unificada, poderíamos dizer o que se deve fazer é, ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita de letras” (Vygotsky, 1987, p.134).

Através do Lúdico podem-se trabalhar vários conteúdos, pude perceber isto ao realizar trabalhos envolvendo contação de histórias, música, teatro, artes visual, confecções de brinquedos ou jogos de sucatas e que muitas vezes estavam entrelaçados com assuntos diversos como meio ambiente, matemática, língua portuguesa: leitura e escrita, história, geografia e ciências.8
Grandes teóricos como ROUSSEAU, FROEBEL, DEWEY e PIAGET confirmam a importância do lúdico para a educação da criança. Para Rousseau: as crianças têm maneira de ver, sentir e pensar que são próprias e só aprendem através da conquista ativa, isto é, quando participam de um processo. Froebel afirma que a escola deve considerar a criança como atividade criadora e despertar, mediante estímulos, as suas faculdades próprias para a criação produtiva. Dewey afirma que o jogo faz o ambiente natural da criança. Piaget (1973) mostra claramente em suas obras que os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento parta gastar energia das crianças, mas meios que contribuem enriquecem o desenvolvimento intelectual.
Pautados em todos estes grandes estudiosos e amantes da educação é que nós iremos construir nossa prática de ensino. Trabalharemos com jogos do tipo: bingo de verbos; de frações; stop de verbos; quebra-cabeça do relevo; trilha do relevo; trilha sobre o povo paranaense; trilha do ciclo da água; dramatização sobre o povo paranaense; confecção de frações; confecção do ciclo da água; dominó de frações; jogo da forca de verbos; jogo da memória de verbos, de frações, do ciclo da água, do povo paranaense e do relevo; dança fandango; danças típicas do povo paranaense.

Cronograma: 9

MÊS/TAREFA
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
Escolha escola
X
X


Observação

X


Elab. Projeto

X
X

Elab. Plano


X

Intervenção



X
Relat. Final



X

6 – Referências 10
DEWEY, J. A Filosofia em Reconstrução. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958.
FREIRE, P. Educação e Mudança. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1983.
FROEBEL, F. Pedagogics of the kindergarten. Translated by Josephine Jarvis. New York and London: D. Appleton, 1917.
PAULO, V. ; ALEXANDRINO, M. Manual de Direito do Trabalho - 15ª edição – revista e atualizada. São Paulo: Método, 2011.
MENDONÇA, J. G. R. Formação De Professores: a dimensão lúdica em questão. In: Cadernos da Pedagogia - Ano 2, Vol.2, No.3 jan./jul 2008.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação. São Paulo: Difel, 1968.
TEIXEIRA, C. E. J. A Ludicidade na Escola. São Paulo: Loyola, 1995.

VYGOTSKY, L. Pensamento e linguagem.SP, Martins Fontes, 1987

7- Anexo 11

DIAS
MATÉRIAS (BÁSICAS) POR HORÁRIOS 7:30H/11:30H
16
PORT
MAT
RECREIO
HIST
GEOG
17
CIENC
GEOG
RECREIO
MAT
PORT
18
ART
ART
RECREIO
LITER
ED FIS
21
PORT
MAT
RECREIO
HIST
GEOG
22
CIENC
GEOG
RECREIO
MAT
PORT









O papel do professor de literatura na formação de leitores

O papel do professor de literatura na formação de leitores

Solange Loos

Minhas lembranças das aulas de literatura que tive quando cursava o Segundo Grau me motivaram a refletir sobre o papel do professor de literatura enquanto formador de leitores. Infelizmente, essas recordações não são boas, pelo contrário: lembro, principalmente, de um professor extremamente conservador e enérgico, que adotava um livro didático que, como a maioria dos que se propunham a ensinar literatura naquela época, não passava de uma esquematização (extremamente malfeita) de nomes, datas, características de escolas literárias, obras mais importantes, etc., ou seja, um perfeito rol de inutilidades. E a "arte da palavra" — que era como esse livro definia literatura (e que, de todo o rol, foi a única definição que não esqueci) — soava-me tão distante, mas tão distante, que eu chegava a pensar que havia algo errado comigo, já que não conseguia entender a importância de algo que o livro didático dizia que era tão bom. Em quase todas as aulas, esse professor repetia: "Machado de Assis é bom", "José de Alencar é bom" e "É preciso ler o que é bom". Lembro que, uma vez, fui à biblioteca do colégio e peguei A pata da gazela (de José de Alencar). Não achei nada bom, mas não tive coragem de dizer isso àquele professor ou de lhe pedir que me explicasse por que o livro que tinha acabado de detestar era bom.

Hoje, compreendo o motivo de ele não ter me explicado por que Machado de Assis é bom: nem ele sabia por quê. Ele falava de algo que não conhecia, repetia o que havia ouvido de seus professores e, o que é ainda pior, não lia para conhecer e poder convencer seus alunos.

Se aquele meu professor soubesse o que é literatura e por que ele a ensinava, teria me mostrado que ela está em toda parte — no rádio, na TV, no cinema, no teatro... —, e eu certamente teria me interessado por ela imediatamente. Dos males, o menor — sempre gostei de ler e li, mas perdi muito tempo lendo bobagens até descobrir o valor da literatura.

A prática do professor que não têm noção do que está fazendo só serve para afastar o aluno da leitura. E a imposição do cânone literário — muitas vezes indigesto — acaba fortalecendo a idéia de que literatura é só o cânone — que, para a maioria dos alunos, é sinônimo de chatice. Além disso, essa imposição acaba por mistificar a literatura. Se há uma elite que elege o que é bom (Com que critérios? Que valores estão em jogo?), o restante do público em potencial, ou passa a fazer parte de um grupo de privilegiados — os que têm acesso à literatura -, ou é excluído, pois a literatura é vista como algo para iniciados.

E essa mistificação, somada às condições em que se encontra (há tanto tempo...) o magistério, faz com que os professores também não leiam.

O professor que quer incentivar a leitura tem de ser, antes de tudo, leitor. E, segundo o escritor Paulo Venturelli, "um leitor em permanente construção". Só um professor que é leitor e tem consciência do valor da leitura consegue criar leitores e ensiná-los a ler o mundo.

A literatura alimenta a leitura: quanto maior a dimensão cultural do leitor, melhor ele lê; quanto mais ele lê, maior sua dimensão cultural.

Mas não se pode pensar apenas no aspecto prazeroso da leitura: além de prazer estético, livros são instrumentos de conscientização e atualização: o professor tem o papel de formar leitores críticos da cultura. Ao lado do prazer de ler está o prazer da descoberta, da ampliação da visão de mundo, da resistência à massificação, do debate e da crítica.

O conhecimento literário e o gosto pela leitura (e uma coisa não existe sem a outra) são requisitos para a construção de um professor formador de leitores. Só o entusiasmo do professor pela leitura e a consciência de seu papel podem envolver os alunos e fazê-los ler.

Em termos metodológicos, é preciso dar-lhes uma grande quantidade e variedade de livros. O patrimônio histórico, cultural e científico da humanidade está fixado em diferentes tipos de livros, e isso torna as visitas freqüentes à biblioteca imprescindíveis.

O professor que realmente é formador de leitores tem abertura às diversas interpretações que a obra literária pode suscitar e tenta sempre aprender com elas.

Em uma sociedade em que imperam o utilitarismo, o consumismo e a alienação, o professor acaba concorrendo com os meios de comunicação e toda a sorte de entretenimentos que apelam para o óbvio. Fazer com que o aluno tome consciência da necessidade de transformação de si mesmo e do mundo pode ser uma forma de sensibilizá-lo para a leitura, a literatura e a realidade. É preciso ensinar o aluno a fazer a vinculação entre o lido e o vivido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura & realidade brasileira. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.

VENTURELLI, Paulo. A literatura na escola. Revista Letras, n. 39, Curitiba, p. 259-269, 1990.





 

Alfabetização e Letramento:

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Alfabetização e Letramento:
Repensando o Ensino da Língua Escrita
Silvia M. Gasparian ColelloFEUSPsilvia.colello@uol.com.br
Se, no início da década de 80, os estudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação lingüística; os anos que se seguiram, com a emergência dos estudos sobre o letramento [i] , foram igualmente férteis na compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e de seu aprendizado. Em estreita sintonia, ambos os movimentos, nas suas vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a segregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que ensina. Romperam também com o reducionismo que delimitava a sala de aula como o único espaço de aprendizagem.
Reforçando os princípios antes propalados por Vygotsky e Piaget, a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o sujeito e a cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado dos processos cognitivos de elaboração absolutamente pessoal (ninguém aprende pelo outro), há um contexto que, não só fornece informações específicas ao aprendiz, como também motiva, dá sentido e “concretude” ao aprendido, e ainda condiciona suas possibilidades efetivas de aplicação e uso nas situações vividas. Entre o homem e o saberes próprios de sua cultura, há que se valorizar os inúmeros agentes mediadores da aprendizagem (não só o professor, nem só a escola, embora estes sejam agentes privilegiados pela sistemática pedagogicamente planejada, objetivos e intencionalidade assumida).
O objetivo do presente artigo é apresentar o impacto dos estudos sobre o letramento para as práticas alfabetizadoras.
Capitaneada pelas publicações de Angela Kleiman, (95) Magda Soares (95, 98) e Tfouni (95), a concepção de letramento contribuiu para redimensionar a compreensão que hoje temos sobre: a) as dimensões do aprender a ler e a escrever; b) o desafio de ensinar a ler e a escrever; c) o significado do aprender a ler e a escrever, c) o quadro da sociedade leitora no Brasil d) os motivos pelos quais tantos deixam de aprender a ler e a escrever, e e) as próprias perspectivas das pesquisas sobre letramento.

As dimensões do aprender a ler e a escrever

Durante muito tempo a alfabetização foi entendida como mera sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um código fundado na relação entre fonemas e grafemas. Em uma sociedade constituída em grande parte por analfabetos e marcada por reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonológica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/interpretar palavras (ou frases curtas) parecia ser suficiente para diferenciar o alfabetizado do analfabeto.
Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da leitura. Seguindo a mesma trajetória dos países desenvolvidos, o final do século XX impôs a praticamente todos os povos a exigência da língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas como verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania. Foi no contexto das grandes transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo “letramento” surgiu [ii] , ampliando o sentido do que tradicionalmente se conhecia por alfabetização (Soares, 2003).
Hoje, tão importante quanto conhecer o funcionamento do sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas, respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica. Assim,
Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade (Tfouni, 1995, p. 20).
Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escolares de ensino da língua escrita e a dimensão social das várias manifestações escritas em cada comunidade, Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Cole, define o letramento como
... um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19)
Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabetização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapolando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do sistema de escrita:
Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).
Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o código (Soares, 1998). Por isso, aprender a ler e a escrever implica não apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las (ou de associá-las), mas a possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto cultural. Em função disso,
Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira [iii] nas diversas atividades pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva. (Leite, p. 25)

O desafio de ensinar a ler e a escrever

Partindo da concepção da língua escrita como sistema formal (de regras, convenções e normas de funcionamento) que se legitima pela possibilidade de uso efetivo nas mais diversas situações e para diferentes fins, somos levados a admitir o paradoxo inerente à própria língua: por um lado, uma estrutura suficientemente fechada que não admite transgressões sob pena de perder a dupla condição de inteligibilidade e comunicação; por outro, um recurso suficientemente aberto que permite dizer tudo, isto é, um sistema permanentemente disponível ao poder humano de criação (Geraldi, 93).
Como conciliar essas duas vertentes da língua em um único sistema de ensino? Na análise dessa questão, dois embates merecem destaque: o conceitual e o ideológico.
1) O embate conceitual
Tendo em vista a independência e a interdependência entre alfabetização e letramento (processos paralelos [iv] , simultâneos ou não [v] , mas que indiscutivelmente se complementam), alguns autores contestam a distinção de ambos os conceitos, defendendo um único e indissociável processo de aprendizagem (incluindo a compreensão do sistema e sua possibilidade de uso). Em uma concepção progressista de “alfabetização” (nascida em oposição às práticas tradicionais, a partir dos estudos psicogenéticos dos anos 80), o processo de alfabetização incorpora a experiência do letramento e este não passa de uma redundância em função de como o ensino da língua escrita já é concebido. Questionada formalmente sobre a “novidade conceitual” da palavra “letramento”, Emilia Ferreiro explicita assim a sua rejeição ao uso do termo:
Há algum tempo, descobriram no Brasil que se poderia usar a expressão letramento. E o que aconteceu com a alfabetização? Virou sinônimo de decodificação. Letramento passou a ser o estar em contato com distintos tipos de texto, o compreender o que se lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a aceitar um período de decodificação prévio àquele em que se passa a perceber a função social do texto. Acreditar nisso é dar razão à velha consciência fonológica. (2003, p. 30)
Note-se, contudo, que a oposição da referida autora circunscreve-se estritamente ao perigo da dissociação entre o aprender a escrever e o usar a escrita (“retrocesso” porque representa a volta da tradicional compreensão instrumental da escrita). Como árdua defensora de práticas pedagógicas contextualizadas e signifcativas para o sujeito, o trabalho de Emília Ferreiro, tal como o dos estudiosos do letramento, apela para o resgate das efetivas práticas sociais de língua escrita o que faz da oposição entre eles um mero embate conceitual.
Tomando os dois extremos como ênfases nefastas à aprendizagem da língua escrita (priorizando a aprendizagem do sistema ou privilegiando apenas as práticas sociais de aproximação do aluno com os textos), Soares defende a complementaridade e o equilíbrio entre ambos e chama a atenção para o valor da distinção terminológica:
Porque alfabetização e letramento são conceitos freqüentemente confundidos ou sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo que é importante também aproximá-los: a distinção é necessária porque a introdução, no campo da educação, do conceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo de alfabetização; por outro lado, a aproximação é necessária porque não só o processo de alfabetização, embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito de letramento, como também este é dependente daquele. (2003, p. 90)
Assim como a autora, é preciso reconhecer o mérito teórico e conceitual de ambos os termos. Balizando o movimento pendular das propostas pedagógicas (não raro transformadas em modismos banais e mal assimilados), a compreensão que hoje temos do fenômeno do letramento presta-se tanto para banir definitivamente as práticas mecânicas de ensino instrumental, como para se repensar na especificidade da alfabetização. Na ambivalência dessa revolução conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do ensino da língua escria: o alfabetizar letrando.
2) O embate ideológico
Mais severo do que o embate conceitual, a oposição entre os dois modelos descritos por Street (1984) [vi] representa um posicionamento radicalmente diferente, tanto no que diz respeito às concepções implícita ou explicitamente assumidas quanto no que tange à pratica pedagógica por elas sustentadas.
O “Modelo Autônomo”, predominante em nossa sociedade, parte do princípio de que, independentemente do contexto de produção, a língua tem uma autonomia (resultado de uma lógica intrínseca) que só pode ser apreendida por um processo único, normalmente associado ao sucesso e desenvolvimento próprios de grupos “mais civilizados”.
Contagiada pela concepção de que o uso da escrita só é legitimo se atrelada ao padrão elitista da “norma culta” e que esta, por sua vez, pressupõe a compreensão de um inflexível funcionamento lingüístico, a escola tradicional sempre pautou o ensino pela progressão ordenada de conhecimentos: aprender a falar a língua dominante, assimilar as normas do sistema de escrita para, um dia (talvez nunca) fazer uso desse sistema em formas de manifestação previsíveis e valorizadas pela sociedade. Em síntese, uma prática reducionista pelo viés lingüístico e autoritária pelo significado político; uma metodologia etnocêntrica que, pela desconsideração do aluno, mais se presta a alimentar o quadro do fracasso escolar.
Em oposição, o “Modelo Ideológico” admite a pluralidade das práticas letradas, valorizando o seu significado cultural e contexto de produção. Rompendo definitivamente com a divisão entre o “momento de aprender” e o “momento de fazer uso da aprendizagem”, os estudos lingüísticos propõem a articulação dinâmica e reversível [vii] entre “descobrir a escrita” (conhecimento de suas funções e formas de manifestação), “aprender a escrita” (compreensão das regras e modos de funcionamento) e “usar a escrita” (cultivo de suas práticas a partir de um referencial culturalmente significativo para o sujeito). O esquema abaixo pretende ilustrar a integração das várias dimensões do aprender a ler e escrever no processo de alfabetizar letrando:


O significado do aprender a ler e a escrever

Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de leitura e escrita e respondam aos apelos da cultura grafocêntrica, podendo inserir-se criticamente na sociedade, a aprendizagem da língua escrita deixa de ser uma questão estritamente pedagógica para alçar-se à esfera política, evidentemente pelo que representa o investimento na formação humana. Nas palavras de Emilia Ferreiro,
A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário. (2001)
Retomando a tese defendida por Paulo Freire, os estudos sobre o letramento reconfiguraram a conotação política de uma conquista – a alfabetização - que não necessariamente se coloca a serviço da libertação humana. Muito pelo contrário, a história do ensino no Brasil, a despeito de eventuais boas intenções e das “ilhas de excelência”, tem deixado rastros de um índice sempre inaceitável de analfabetismo agravado pelo quadro nacional de baixo letramento.

O quadro da sociedade leitora no Brasil

Do mesmo modo como transformaram as concepções de língua escrita, redimensionaram as diretrizes para a alfabetização e ampliaram a reflexão sobre o significado dessa aprendizagem, os estudos sobre o letramento obrigam-nos a reconfigurar o quadro da sociedade leitora no Brasil. Ao lado do índice nacional de 16.295.000 analfabetos no país (IBGE, 2003), importa considerar um contingente de indivíduos que, embora formalmente alfabetizados, são incapazes de ler textos longos, localizar ou relacionar suas informações.
Dados do Instituto Nacional de Estatística e Pesquisa em Educação (INEP) indicam que os índices alcançados pela maioria dos alunos de 4ª série do Ensino Fundamental não ultrapassam os níveis “crítico” e “muito crítico”. Isso quer dizer que mesmo para as crianças que têm acesso à escola e que nela permanecem por mais de 3 anos, não há garantia de acesso autônomo às praticas sociais de leitura e escrita (Colello, 2003, Colello e Silva, 2003). Que escola é essa que não ensina a escrever?
Independentemente do vínculo escolar, essa mesma tendência parece confirmar-se pelo “Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional” (INAF), uma pesquisa realizada por amostragem representativa da população brasileira de jovens e adultos (de 15 a 64 anos de idade) [viii] : entre os 2000 entrevistados, 1475 eram analfabetos ou tinham pouca autonomia para ler ou escrever, e apenas 525 puderam ser considerados efetivos usuários da língua escrita. Indiscutivelmente, uma triste realidade!

Os motivos pelos quais tantos deixam de aprender a ler e a escrever

Por que será que tantas crianças e jovens deixam de aprender a ler e a escrever? Por que é tão difícil integrar-se de modo competente nas práticas sociais de leitura e escrita?
Se descartássemos as explicações mais simplistas (verdadeiros mitos da educação) que culpam o aluno pelo fracasso escolar; se admitíssemos que os chamados “problemas de aprendizagem” se explicam muito mais pelas relações estabelecidas na dinâmica da vida estudantil; se o desafio do ensino pudesse ser enfrentado a partir da necessidade de compreender o aluno para com ele estabelecer uma relação dialógica, significativa e compromissada com a construção do conhecimento; se as práticas pedagógicas pudessem transformar as iniciativas meramente instrucionais em intervenções educativas; talvez fosse possível compreender melhor o significado e a verdadeira extensão da não aprendizagem e do quadro de analfabetismo no Brasil.
Nesse sentido, os estudos sobre o letramento se prestam à fundamentação de pelo menos três hipóteses não excludentes para explicar o fracasso no ensino da língua escrita. Na mesma linha de argumentação dos educadores que evidenciaram os efeitos do “currículo oculto” nos resultados escolares de diferentes segmentos sociais, é preciso considerar, como ponto de partida, que as práticas letradas de diferentes comunidades (e portanto, as experiências de diferentes alunos) são muitas vezes distantes do enfoque que a escola costuma dar à escrita (o letramento tipicamente escolar). Lidar com essa diferença (as formas diversas de conceber e valorar a escrita, os diferentes usos, as várias linguagens, os possíveis posicionamentos do interlocutor, os graus diferenciados de familiaridade temática, as alternativas de instrumentos, portadores de textos e de práticas de produção e interpretação...) significa muitas vezes percorrer uma longa trajetória, cuja duração não está prevista nos padrões inflexíveis da programação curricular.
Em segundo lugar, é preciso considerar a reação do aprendiz em face da proposta pedagógica, muitas vezes autoritária, artificial e pouco significativa. Na dificuldade de lidar com a lógica do “aprenda primeiro para depois ver para que serve”, muitos alunos parecem pouco convencidos a mobilizar os seus esforços cognitivos em benefício do aprender a ler e a escrever (Carraher, Carraher e Schileimann, 1989; Colello, 2003, Colello e Silva, 2003). Essa típica postura de resistência ao artificialismo pedagógico em um contexto de falta de sintonia entre alunos e professores parece evidente na reivindicação da personagem Mafalda:
Com ironia e bom humor, o exemplo acima explica o caso bastante freqüente de jovens inteligentes que aprenderam a lidar com tantas situações complexas da vida (aquisição da linguagem, transações de dinheiro, jogos de computador, atividades profissionais, regras e práticas esportivas entre outras), mas que não conseguem disponibilizar esse reconhecido potencial para superar a condição de analfabetismo e baixo letramento.
Por último, ao considerar os princípios do alfabetizar letrando (ou do Modelo Ideológico de letramento), devemos admitir que o processo de aquisição da língua escrita está fortemente vinculado a uma nova condição cognitiva e cultural. Paradoxalmente, a assimilação desse status (justamente aquilo que os educadores esperam de seus alunos como evidência de “desenvolvimento” ou de emancipação do sujeito) pode se configurar, na perspectiva do aprendiz, como motivos de resistência ao aprendizado: a negação de um mundo que não é o seu; o temor de perder suas raízes (sua história e referencial); o medo de abalar a primazia até então concedida à oralidade (sua mais típica forma de expressão), o receio de trair seus pares com o ingresso no mundo letrado e a insegurança na conquista da nova identidade (como “aluno bem-sucedido” ou como “sujeito alfabetizado” em uma cultura grafocêntrica altamente competitiva).
... a aprendizagem da língua escrita envolve um processo de aculturação – através, e na direção das práticas discursivas de grupos letrados - , não sendo, portanto, apenas um processo marcado pelo conflito, como todo processo de aprendizagem, mas também um processo de perda e de luta social. (...)
(...) há uma dimensão de poder envolvida no processo de aculturação efetivado na escola: aprender – ou não – a ler e escrever não equivale a aprender uma técnica ou um conjunto de conhecimentos. O que está envolvido para o aluno adulto é a aceitação ou o desafio e a rejeição dos pressupostos, concepções e práticas de um grupo dominante – a saber, as práticas de letramento desses grupos entre as quais se incluem a leitura e a produção de textos em diversas instituições, bem como as formas legitimadas de se falar desses textos -, e o conseqüente abandono (e rejeição) das práticas culturais primárias de seu grupo subalterno que, até esse momento, eram as que lhe permitiam compreender o mundo. (Kleiman, 2001, p. 271)
Como exemplo de um mecanismo de resistência ao mundo letrado construído por práticas pedagógicas (ainda que involuntariamnete ideologizantes) no cotidiano da sala de aula, Kleiman (2001) expõe o caso de um grupo de jovens que se rebelaram ante a proposta da professora de examinar bulas de remédio. Como recurso didático até bem intencionado, o objetivo da tarefa era o de aproximar os alunos da escrita, favorecendo a compreensão de seus usos, nesse caso, chamando a sua atenção para os perigos da auto-medicação e para a importância de se informar antes de tomar uma medicação (posologia, reações adversas, efeitos colaterais, etc). Do ponto de vista dos alunos, o repúdio à tarefa, à escola e muito provavelmente à escrita foi uma reação contra a implícita proposta de fazer parte de um mundo ao qual nem todos podem ter livre acesso: o mundo da medicina, da possibilidade de ser acompanhado por um médico e da compra de remédios.
Na prática, a desconsideração dos significados implícitos do processo de alfabetização - o longo e difícil caminho que o sujeito pouco letrado tem a percorrer, a reação dele em face da artificialidade das práticas pedagógica e a negação do mundo letrado – acaba por expulsar o aluno da escola, um destino cruel, mas evitável se o professor souber instituir em classe uma interação capaz de mediar as tensões, negociar significados e construir novos contextos de inserção social.

Perspectivas das pesquisas sobre letramento

Embora o termo “letramento” remeta a uma dimensão complexa e plural das práticas sociais de uso da escrita, a apreensão de uma dada realidade, seja ela de um determinado grupo social ou de um campo específico de conhecimento (ou prática profissional) motivou a emergência de inúmeros estudos a respeito de suas especificidades. É por isso que, nos meios educacionais e acadêmicos, vemos surgir a referência no plural “letramentos”.
Mesmo correndo o risco de inadequação terminológica, ganhamos a possibilidade de repensar o trânsito do homem na diversidade dos “mundos letrados”, cada um deles marcado pela especificidade de um universo. Desta forma, é possível confrontar diferentes realidades, como por exemplo o “letramento social” com o “letramento escolar”; analisar particularidades culturais, como por exemplo o “letramento das comunidades operárias da periferia de São Paulo”, ou ainda compreender as exigências de aprendizagem em uma área específica, como é o caso do “letramento científico”, “letramento musical” o “letramento da informática ou dos internautas”. Em cada um desses universos, é possível delinear práticas (comportamentos exercidos por um grupo de sujeitos e concepções assumidas que dão sentido a essas manifestações) e eventos (situações compartilhadas de usos da escrita) como focos interdependentes de uma mesma realidade (Soares, 2003). A aproximação com as especificidades permite não só identificar a realidade de um grupo ou campo em particular (suas necessidades, características, dificuldades, modos de valoração da escrita), como também ajustar medidas de intervenção pedagógica, avaliando suas conseqüências. No caso de programas de alfabetização, a relevância de tais pesquisas é assim defendida por Kleiman:
Se por meio das grandes pesquisas quantitativas, podemos conhecer onde e quando intervir em nível global, os estudos acadêmicos qualitativos, geralmente de tipo etnográfico, permitem conhecer as perspectivas específicas dos usuários e os contextos de uso e apropriação da escrita, permitindo, portanto, avaliar o impacto das intervenções e até, de forma semelhante à das macro análises, procurar tendências gerais capazes de subsidiar as políticas de implementação de programas. (2001, p. 269)
***
Sem a pretensão de esgotar o tema, a breve análise do impacto e contribuição dos estudos sobre letramento aqui desenvolvida aponta para a necessidade de aproximar, no campo da educação, teoria e prática. Na sutura entre concepções, implicações pedagógicas, reconfiguração de metas e quadros de referência, hipóteses explicativas e perspectivas de investigação, talvez possamos encontrar subsídios e alternativas para a transformação da sociedade leitora no Brasil, uma realidade politicamente inaceitável e, pedagogicamente, aquém de nossos ideais.



NOTAS
[i] “Literacy” do inglês, traduzido por “letramento” no Brasil e por “literacia” em Portugal é uma terminologia não dicionarizada que, nos meios acadêmicos, vem sendo utilizada com diferentes sentidos.
[ii] No Brasil, o termo “letramento” foi usado pela 1a vez por Mary Kato, em 1986, na obra “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística” (São Paulo, Ática). Dois anos depois, passa a representar um referencial no discurso da educação, ao ser definido por Tfouni em “Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso” (São Paulo, Pontes) e retomado em publicações posteriores.
[iii] O autor utiliza a expressão “escrita verdadeira” em oposição à “escrita escolar”, um modelo muitas vezes artificial, cujo reducionismo não faz justiça à multidimensionalidade da língua viva.
[iv] Como evidência desse paralelismo, é possível, por exemplo, termos casos de pessoas letradas e não alfabetizadas (indivíduos que, mesmo incapazes de ler e escrever, compreendem os papéis sociais da escrita, distinguem gêneros ou reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade) ou de pessoas alfabetizadas e pouco letradas (aqueles que, mesmo dominando o sistema da escrita, pouco vislumbram suas possibilidades de uso).
[v] Em uma sociedade como a nossa, o mais comum é que a alfabetização seja desencadeada por práticas de letramento, tais como ouvir histórias, observar cartazes, conviver com práticas de troca de correspondência, etc. No entanto, é possível que indivíduos com baixo nível de letramento (não raro membros de comunidades analfabetas ou provenientes de meios com reduzidas práticas de leitura e escrita) só tenham a oportunidade de vivenciar tais eventos na ocasião de ingresso na escola, com o início do processo formal de alfabetização.
[vi] Para um estudo mais aprofundado dos modelos “Autônomo” e “Ideológico” descritos por Street, remetemos o leitor à leitura de Kleiman, 1985.
[vii] Dinâmica porque pressupõe o movimento intenso de um pólo ao outro; reversível porque a experiência em qualquer um dos pólos remete ao amadurecimento nos demais.
[viii] Para mais dados sobre a pesquisa do INAF (objetivos, população envolvida, critérios de análise e resultados obtidos), remetemos o leitor à leitura de Ribeiro (2003).
Referências bibliográficas:
CARRAHER, T., CARRAHER, D. & SCHLIEMANN, A. Na vida dez, na escola zero. São Paulo, Cortez, 1989.
COLELLO, S. M. G. “A pedagogia da exclusão no ensino da língua escrita” In VIDETUR, n. 23. Porto/Portugal, Mandruvá, 2003, pp. 27 – 34 (www.hottopos.com).
COLELLO, S. M. G. & SILVA, N. “Letramento: do processo de exclusão social aos vícios da prática pedagógica” In VIDETUR, n. 21. Porto/Portugal: Mandruvá, 2003, pp. 21 – 34 (ww.hottopos.com).
FEEREIRO, E. Cultura escrita e educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 2001.
__________ “Alfabetização e cultura escrita”, Entrevista concedida à Denise Pellegrini In Nova Escola – A revista do Professor. São Paulo, Abril, maio/2003, pp. 27 – 30.
GERALDI, W. Portos de Passagem. São Paulo, Martins Fontes, 1993.
___________ Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas, Mercado das Letras/ABL,1996.
IBGE, Censo Demográfico, Mapa do analfabetismo no Brasil, Brasília, MEC/INEP, 2003.
KLEIMAN, A. B. (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, Mercado das Letras, 1995.
___________ “Programa de educação de jovens e adultos” In Educação e Pesquisa – Revista da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, v. 27, n.2, p.267 – 281.
LEITE, S. A. S. (org.) Alfabetização e letramento – contribuições para as práticas pedagógicas. Campinas, Komedi/Arte Escrita, 2001.
RIBEIRO, V. M. (org.) Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003.
SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 1998.
____________ “Língua escrita, sociedade e cultura: relações, dimensões e perspectivas”, Revista Brasileira de Educação, n. 0, 1995, pp. 5 – 16.
STREET, B. V. Literacy in theory and Practice. Cambridge, University Press, 1984.
TFOUNI, L.V. Letramento e alfabetização. São Paulo, Cortez,1995.

VÍDEOS SOBRE FOLCLORE...

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O LÚDICO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA FACILITADORA DA

Educação, Ciência e Inovação  Santa Maria, RS, 11 a 13 de novembro de 2009

O LÚDICO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA FACILITADORA DA  APRENDIZAGEM E DA SOCIALIZAÇÃO 1     Segala, V.2;     Santos, L.M. dos3

1 Artigo Relatório de Estágio Supervisionado IV_ UNIFRA
2 Acadêmica do 7º semestre do Curso de Pedagogia, Área de Ciências Humanas, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)  Santa Maria , Rio Grande do Sul, Brasil.
3 Professora do Curso de Pedagogia, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Rio Grande do Sul, Brasil.

E-mail: vanessasegala@uol.com.br, lozicler@yahoo.com.br

RESUMO
Esse artigo refere-se ao relato, considerações e reflexões sobre o Estágio Supervisionado IV, do Curso  de Pedagogia, 7° Semestre, do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria/RS numa turma de 3º ano do  Ensino Fundamental, realizado em Colégio Estadual, na referida cidade, no período de março a julho/2009  totalizando 68 horas, tendo como temática “A ação docente e as atividades lúdicas como facilitadoras do  processo ensino-aprendizagem”. O estágio teve por objetivo contextualizar e desenvolver ações docentes, com  auxílio de atividades lúdicas, visando aspectos educacionais e pedagógicos. Para tanto, utilizou-se uma  metodologia baseada na ludicidade capaz de envolver o aluno e fornecer resultados positivos no processo de  aprendizagem, além de contribuir para socialização. Concluiu-se que falta muito, para a mudança, não basta à  simples formação do professor e sim seu comprometimento com o processo de aprendizagem com resultados  positivos; além de uma constante avaliação de sua proposta metodológica.



Palavras-Chave: Ensino; Lúdico; Formação de Professor.



1. INTRODUÇÃO

              Esse artigo refere-se ao relato, considerações e reflexões sobre o Estágio Supervisionado IV,  do Curso de Pedagogia, 7º semestre, do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria/RS, que foi realizado em uma Escola Estadual, na cidade de Santa Maria/RS, no período de março a julho/2009,
totalizando 68 horas, tendo como temática “A ação docente e as atividades lúdicas como  facilitadoras do processo ensino-aprendizagem”. A proposta de trabalhar com o lúdico foi no  sentido de minimizar os problemas oriundos do comportamento dos alunos em relação às propostas  metodológicas desenvolvidas pela escola e em relação ao seu contexto social como miserabilidade,  violência e repetência. Para tanto, utilizou-se uma metodologia baseada na ludicidade capaz de  envolver o aluno e fornecer resultados positivos no processo de aprendizagem, além de contribuir  para a socialização. Nesse sentido, realizou-se um estudo da realidade escolar com a finalidade de  projetar um trabalho significativo tanto para a nossa formação docente, quanto para as necessidades  da instituição.  O período de estágio deu-se em três momentos. Monitoria – com a finalidade de entrar em  contato com o ambiente escolar, especificamente na área de ação docente, considerando que só  conhecendo essa realidade poderíamos desenvolver o projeto; Elaboração do projeto – buscou-se  com base em aportes teóricos obter subsídios para a construção de atividades que fossem ao  encontro das necessidades da turma. Aplicação de atividades baseadas na ludicidade – as ações  foram colocadas em prática fazendo-nos refletir acerca da importância do papel do educador como  mediador do processo ensino-aprendizagem.
             Nesse sentido, o estágio teve por objetivo contextualizar e desenvolver ação docente nos  seus aspectos pedagógicos e educacionais, observando entre outros, o planejamento e a  implementação dos planos pedagógicos, bem como a estrutura organizacional e também realizar  atividades lúdicas que minimizassem os problemas oriundos do comportamento dos alunos, da turma  do 3º ano do Ensino Fundamental, em relação às propostas metodológicas desenvolvidas pela escola
e professora.


2. METODOLOGIA

                 As pessoas envolvidas nesse trabalho foram 18 crianças do 3º ano do Ensino Fundamental,  duas alunas estagiárias do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e a  professora coordenadora do mesmo.  O desenvolvimento do projeto envolve o aprendizado contínuo e permanente, com a  combinação de diversas técnicas, método de pesquisa disponível para o ambiente analisado junto aos  saberes especializados e formais. 
                O professor deve observar as potencialidades e as possibilidades de cada aluno, para assim desenvolver atividades que venham ao encontro das necessidades e experiências sentidas e vividas por eles. Está é uma concepção onde o professor orienta o aluno no processo ensino-aprendizagem, valoriza o conhecimento prévio do mesmo, relaciona teoria com a prática, realiza várias atividades lúdicas, entre elas citamos os jogos, a música e a dança, que priorizam o aprender a aprender. 
               A pesquisa que resultou nessa sistematização foi motivada pela constatação de que é possível amenizar a desmotivação, o desinteresse ou até mesmo as dificuldades de aprendizagem enfrentadas no dia-a-dia com o “uso do lúdico na construção do conhecimento”.


3. CONTEXTUALIZAÇÃO E RESULTADOS DAS ATIVIDADES REALIZADAS

                 A contextualização da instituição de estágio foi feita por meio de análise e observação da realidade escolar, onde foram obtidas várias informações. O Colégio Estadual em questão localiza-se na zona leste da cidade. Este Colégio atende 801 alunos, sendo distribuídos da seguinte maneira: pela parte da manhã, das 7h 40mim às 11h 55 mim, estão matriculados 245 alunos, à tarde, das 13h 20mim às 17h 40mim, estão matriculados 328 alunos e das 19h às 22h 30mim, estão matriculados 229 alunos.
                 A escola possui sede própria, com espaço físico apropriado, possuindo ao todo onze pavilhões, pracinha, sala de vídeo, sala de área técnica, biblioteca, sala de educação artística, sala de educação física, laboratório de ciências, laboratório de informática, galpão crioulo, serviço de coordenação pedagógica nos três turnos.
               O serviço de coordenação pedagógica é exercido por uma coordenadora, a qual possui graduação em Pedagogia, e com duas auxiliares que são pedagogas e duas professoras habilitadas em Língua Portuguesa.
               Semanalmente são realizadas reuniões pedagógicas nos três turnos, onde abordam temas como inclusão, sala de aula, alunos, cadernos de chamada, e as dificuldades apresentadas durante a semana, além dos planos de estudos que são organizados trimestralmente.
              Com a participação de toda a comunidade escolar são realizadas atividades globalizadas que envolvem a reestruturação do projeto pedagógico, com a implantação do Ensino Fundamental de nove anos, mudanças da matriz curricular como implantação de disciplinas de Redação, Sociologia, Espanhol, Educação Física no turno inverso, calendário de provas, mudanças nas avaliações, prova de reclassificação da Educação de Jovens e Adultos, aulas de reforço e reuniões pedagógicas.
              Esta instituição escolar oferece atividades extraclasses Consta no planejamento do ano corrente, atividades pedagógicas como: festa juliana, jantar de aniversário do colégio, semana da pátria, semana farroupilha com a chegada da chama crioula, escolha da garota e garoto da escola, festa do dia das crianças, festa de hallowen, risoto para a comunidade, jantar de confraternização dos funcionários, formatura do Ensino Médio, atividade integrada da Educação de Jovens e Adultos.
              Tais aspectos são considerados de extrema importância para o conhecimento da realidade escolar, uma vez que com estes dados pode-se pensar em atividades docentes mais agradáveis, prazerosas e que realmente vão ao encontro do interesse dos alunos.
              Apesar das várias propostas e ações existentes no âmbito da instituição, como o clube de mães, escolinha de futebol de campo, clube de futsal feminino, clube de vôlei, futebol infantil e juvenil, projeto criança dourada, percussão e conto no Ensino Fundamental, dança tradicionalista, capoeira, ginástica rítmica, projeto de redação; aulas de reforço de Física e Matemática para o Ensino Médio e para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental, projeto de teatro, participação na feira do livro (teatro feirinha de Machado de Assis), participação na prova Brasil e no SAERS; percebe-se que os resultados continuam insatisfatórios, o que demonstra a necessidade de mudanças no contexto educacional. Parece estar presente a realidade do ensino tradicional ou empírico baseado na disciplina e hierarquia onde a troca de idéias entre ele e os colegas não é estimulada; os conteúdos são vastos e há um grande número de disciplinas.
                Nessa tendência pedagógica, muitas vezes o aluno é visto como um “produto”, sendo o professor responsável por classificá-lo em capaz ou incapaz. Conforme afirmam os PCNs (1997, p.30), essa prática de ensino mostrou-se ineficaz, pois

[...] é uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria através de aulas expositivas, devendo os alunos prestar atenção e realizar exercícios repetitivos, a fim de memorizar e reproduzir a matéria ensinada.[...] Na maioria das escolas esta prática pedagógica se caracteriza por sobrecarga de informações que são veiculadas aos alunos, o que torna o processo de aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas vezes destituído de significação e burocratizado.

               O professor, aqui, é visto como elemento central no processo de ensino e aprendizagem, sendo a autoridade máxima intermediária entre o aluno e o conhecimento, um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, portanto, o guia exclusivo do processo educativo.
                Assim sendo, o professor torna-se um dos principais, senão o mais importante ator dessa mudança. Portanto sua formação e sua prática têm sido motivos de estudos. Diante dessa realidade, embora nesta instituição escolar sejam inúmeras as atividades extraclasses, talvez estas, não estejam sendo utilizadas de forma adequada, pelos alunos, e não atingem seus objetivos; assim, a utilização de atividades lúdicas pode contribuir para uma melhoria nos resultados obtidos pelos educandos. Óbvio, que as atividades lúdicas não incluiriam toda a complexidade que envolve o processo educativo, mas poderiam auxiliar na busca de melhores resultados por parte dos educadores interessados em promover mudanças. Estas atividades seriam mediadoras de avanços e contribuiriam para tornar a sala de aula um ambiente alegre e favorável, com respeito, regras e disciplina.
                O professor comprometido com mudanças poderá encontrar na proposta do lúdico uma rica
metodologia, que contribuirá para diminuir os altos índices de fracasso e evasão escolar verificado nas escolas. Em relação a essas mudanças alternativas do ensino – aprendizagem, Rosa (1997, p.41)
coloca que,

Os teóricos do construtivismo constatam que o aluno é sujeito de sua própria aprendizagem, o que equivale a dizer que ele atua de modo inteligente em busca da compreensão do mundo que o rodeia, automaticamente estão dando uma grande "dica" aos educadores, e lançando também um grande desafio. É como se dissessem: "sejam o centro do processo de ensino; criem, junto com os alunos, os seus próprios caminhos; descubram alternativas pedagógicas em sala de aula”.

                Neste contexto, Rosa (1997) nos mostra com clareza o papel do professor como mediador. Não basta deter o conhecimento e querer repassar informações, precisamos estar abertos para que nossos alunos nos indiquem o caminho a ser seguido. Dentro desta realidade, faz-se necessário um pensar sobre a práxis, o ambiente escolar e as verdadeiras necessidades dos educandos. O comprometimento e o querer a mudança faz a diferença. Dentro desta metodologia lúdica, os jogos representam uma maneira pedagógica de brincar e socializar, com o objetivo de transmitir às crianças confiança em si mesmas, e ao mesmo tempo conhecer suas habilidades e limitações. Ajudam, a despertar no indivíduo, o respeito ao próximo, solidariedade, espírito crítico e integração com o meio. Para que os resultados sejam positivos, o educador deve conversar sobre o objetivo, as regras, comparar jogadas, justificar, como forma de potencializar os efeitos do jogo de regras no desenvolvimento do pensamento. Ao conhecer e aceitar as regras a criança percebe limites e busca formas de posicionamento que facilitem seu desempenho. Quanto a isto Golbert (1999, p. 44) afirma,

[...] os alunos têm a oportunidade de refletir sobre a experiência e elaborá-la, num processo simultaneamente pessoal e social. [...] através das regras explicitas e implícitas da utilização do material, da experimentação, da observação, da demonstração, a criança ultrapassa o nível do desenvolvimento espontâneo de estruturas cognitivas elementares – ações e percepções -, para desenvolver estruturas mentais superiores, qual sejam, abstrações, relações, análises e sínteses, inferências, generalizações, que emergem num processo socialmente mediado.

                  Corroborando com a posição de Golbert, salienta-se a proposta realizada durante o estágio, na área de matemática, por meio do jogo do Bingo, com intuito de ensinar o processo de multiplicação aos alunos. Todos precisavam pensar agrupar elementos e ver se o resultado encontrava-se nas fichas, desta forma, foi trabalhada a tabuada do dois. Uma das dificuldades dos professores em sala de aula é a agressão, a falta de limites, e o desrespeito dos alunos para com eles. Não há disciplina em sala de aula. A falta de interesse e compromisso da família e, além disso, os acontecimentos e a evolução fora da escola é mais instigante para os alunos do que as propostas de trabalho que são oferecidas em sala de aula.
                Por serem de uma classe social baixa, alguns em situação de miséria, a preocupação destas crianças se iguala a de um adulto, apresentando assim dificuldade de aprendizado e trazendo para sala de aula as conseqüências que vivenciam e, conseqüentemente seus traumas do cotidiano. Aquino (1997, p.46) comenta que

As várias combinações de classes sociais, grupos ocupacionais, religiões, modos de acesso a produtos culturais, valores e objetivos educacionais das famílias etc., podem produzir diversas formas de relacionamento entre a cultura da escola e a cultura de seus usuários. A escola representa uma modalidade específica de relação entre sujeito e objeto de conhecimento, resultante de um determinado processo histórico de construção dessa instituição, que pode ser mais ou menos compartilhada pelos alunos e seus familiares. A falta de compatibilidade entre o que é pretendido pela escola e o que é desejável, ou possível, para seus alunos, acirrada pelo processo de democratização do acesso de diferentes grupos à escola, é fonte indiscutível de fracasso escolar [...]”.

                Após o conhecimento da realidade da escola, sentiu-se a necessidade de apresentar um trabalho que contribuísse com o desempenho dos alunos, nas diferentes disciplinas, por meio de atividades lúdicas como jogo, música, dança e artesanato, ferramentas lançadas, quando decidiu-se realizar um trabalho diferenciado que conseguisse buscar ou voltar o interesse dos alunos para a aprendizagem.
                Os assuntos trabalhados neste período abrangeram algumas datas comemorativas como Descobrimento do Brasil e Dia do índio; além de produção textual; sinais de pontuação, introdução da noção de multiplicação. A proposta de estágio baseou-se na ludicidade, buscando explorar a criatividade e a espontaneidade de cada um, uma vez que a realidade vivenciada, em sala de aula, era muito triste, visualizou-se, diariamente, na monitoria e nos dias de estágio uma grande violência em sala de aula, desde agressões verbais entre colegas que chegavam, caso não houvesse interferência, em agressões físicas. Quanto a isso cita-se Vasconcellos, (1997, p.245)

Muitos problemas de indisciplina têm origem na questão do desrespeito. Com freqüência, a indisciplina é uma manifestação de coeficientes de poder não adequadamente equacionados; só que nossos alunos não vão, evidentemente, levantar a mão e argumentar: "Professor, gostaria de pôr em questão nossa relação, tendo em vista a percepção de que entramos num processo de reificação, onde minhas potencialidades ontológicas e epistemológicas estão sendo subestimadas"...

               Eles não conseguem verbalizar isto de uma maneira clara, mas vão manifestar de alguma forma que as coisas não vão bem, como por exemplo: querer sair a todo o momento da sala de aula, ficar conversando fora do assunto, não fazer as lições, agredir o colega ou o professor etc. Diante da queixa da violência do aluno, precisaríamos refletir: quer violência maior do que a negação da esperança, a negação de um futuro melhor a que o aluno, especialmente das escolas públicas, está submetido? Se queremos enfrentara questão da violência do aluno, com certeza o caminho não é usar outra violência ou ser
conivente com ela.
                O lúdico foi trabalhado quando da confecção de um livro sobre as estações do ano, (com colagens de diferentes texturas), que teve por objetivo fazer com que as crianças percebessem os fenômenos naturais através das mudanças das estações do ano. Quanto à data descobrimento do Brasil, foi desenvolvido um trabalho com dobraduras (caravelas) e uma música; teve por objetivo reconhecer as belezas naturais, as riquezas e a historia do território. Outro tema, o dia do índio, realizou-se a confecção de um vaso indígena em duplas, teve por objetivo reconhecer as diferentes culturas. O trabalho proporcionou divisão da tarefa e respeito às habilidades ou ausência delas, no outro. Quanto a área de Português, os sinais de pontuação, foram trabalhados por meio da elaboração de frases em grupo (a proposta assemelhou-se a uma gincana cujo objetivo era identificar o sinal de cada uma e pontuá-las) – o intuito do trabalho foi o de desenvolver a gramática e a oralidade bem como identificar os sinais de pontuação. Nas atividades de Produção textual, o objetivo era despertar o hábito da leitura e da escrita, realizou-se um amigo secreto, onde o presente era um recado para o colega. Nas atividades de raciocínio lógico-matemático trabalhou-se com a idéia da multiplicação através de um jogo do bingo da tabuada do dois (2), cujo objetivo era explicar como se desenvolve o processo da multiplicação.
                 Toda a proposta de estágio oportunizou aos alunos experiências novas e significativas. A surpresa ou a expectativa pela nova atividade manteve o interesse da turma e, assim, todos acabaram participando da proposta com muito empenho e comprometimento. A proposta de trabalho talvez tenha agradado pela forma como foi ofertada. Mas, entende-se que, somente isso, não basta para uma mudança significativa do contexto da escola. Precisa-se, além da formação do professor, uma constante analise da proposta metodológica e um comprometimento, permanente, com a aprendizagem do aluno, tanto dos educadores, como da família. Acreditando que a escola não é um mundo a parte, é necessário que o educador construa seu planejamento a partir da realidade na qual o educando está inserido, tornando o aprendizado mais viável e significativo. É importante considerar o desejo, a vontade e o significado do aprender do aluno, seu nível de aprendizado, seu conhecimento prévio e sua criatividade.


4. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

                A disciplina de Estágio Supervisionado IV representou para as, acadêmicas do curso de Pedagogia, uma oportunidade enriquecedora para o contexto profissional, ampliando o conhecimento, também, na área de gestão educacional.
                O estágio deve assumir sua função prática, neste sentido, dar suporte para o pedagogo enfrentar os desafios que a estrutura organizacional de uma escola pode apresentar. Sabe-se que a educação tem um enorme poder de transformação da sociedade, sendo assim há necessidade de profissionais comprometidos com seus trabalhos e essencialmente com a profissão que escolheram.
                No sistema educativo, a avaliação da práxis se apresenta como uma alternativa para tomada de decisões pedagógicas. Cabe aos professores, buscarem, em sua prática educacional, alternativas metodológicas de desenvolver habilidades e competências de estar proporcionando aos seus alunos novos desafios, para incentivá-los a buscarem novas descobertas. Esta tarefa será mais facilitada se o professor lançar mão do lúdico em seu trabalho.
               Ao realizar o estagio por meio de estratégias metodológicas lúdicas foi observado um crescimento do interesse e participação da turma. O professor interessado em mudanças encontrará na proposta do lúdico uma metodologia ímpar, que contribuirá para diminuir os índices de fracasso e evasão escolar. Fundamental é o papel do pedagogo e do professor na difusão e aplicação dos recursos lúdicos. O professor ao se conscientizar das vantagens do lúdico, acabará adequando-o à sua práxis, de acordo com a necessidade e oportunidade.
               Já o pedagogo estará buscando de forma incessante ações educativas eficazes através do lúdico. Muitas são as atividades lúdicas que podem ser utilizadas em sala de aula ou em espaço adequado, como na brinquedoteca, por exemplo. Pode-se citar os softwares educativos; o desenhar; construir coletivamente; brincadeiras; jogos; danças; leituras; dramatizações; cantos; teatro de fantoches; modelagens; máscaras, dobraduras, dentre outras. Com estas ações, a aprendizagem se dá em um ambiente mais agradável, pautado na coragem e ousadia de professores e pedagogos, que não têm medo de sonhar.
                A escola transforma-se quando todos os saberes se põem a serviço do aluno que aprende, quando os sem-vez se fazem ouvir, revertendo a hierarquia do sistema autoritário. Esta escola torna-se, verdadeiramente popular e de qualidade e recupera a sua função social e política, capacitando os alunos para a participação plena na vida social, política, cultural e profissional na sociedade.
               Destarte, concluímos que as atividades lúdicas podem ser consideradas uma prática eficaz na superação das dificuldades no processo ensino-aprendizagem, pois é por meio dos jogos e das brincadeiras que muitos aspectos são desenvolvidos, contribuindo assim para um processo de aprendizagem eficaz e prazeroso.


REFERÊNCIAS

AQUINO, Julio (org). Erro e fracasso na escola. São Paulo, Summus, 1997.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3 ed. Brasília: A Secretaria, 1997.

GOLBERT, Clarissa Seligman. A experiência matemática na escola. In: V Jornada Curitibana de
Educação Infantil e Ensino Fundamental, Curitiba, Paraná, 1999.

ROSA, Sanny S. da. Construtivismo e mudança. 5 ed. São Paulo: Cortez, 1997.

VASCONCELOS, Celso dos S. Os desafios da Indisciplina em sala de aula e na escola.
Publicação: Série Idéias n.28. São Paulo: FDE, 1997.